POR LAMECK VALENTIM
Há exatamente um ano, despertamos carregados de esperança. As palavras do boletim médico do dia anterior nos alimentaram com uma chama renovada de esperança. Sonhávamos com o retorno para casa, vislumbrando dias melhores. Seguimos nossas rotinas, mesmo com o coração ansiando por novas notícias. Eu estava sentado em frente ao computador quando Jônatas entrou correndo, seu rosto contorcido em angústia. Em um único grito, sem hesitação, ele disse: "Papai morreu". O chão pareceu abrir-se sob meus pés, e uma onda de lembranças inundou minha mente, mesclando-se à dor lancinante que agora dominava meu ser.
Mas mesmo diante dessa tragédia, a vida exigia que eu fosse forte. Tinha que comunicar a notícia à minha família antes que ela se espalhasse ainda mais. Estávamos em casa, eu, mamãe e a cuidadora e minha tia Ceição. Estava perdido. Jônatas voltou para hospital, onde Rhaice já estava. Verbena e Edilberto, meus anjos em tempos turbulentos, logo chegaram.
No entanto, o momento mais difícil ainda estava por vir: contar à minha mãe. Sozinho, eu não teria coragem. Esperei por Betinha e Jônatas, e juntos, buscamos forças divinas para enfrentar o que parecia insuportável. O coração de minha mãe, Maria José, se partiu em mil pedaços ao ouvir a notícia. Ela, com uma força sobrenatural acariciou o espaço ao lado dela na cama, como se ainda pudesse sentir a presença de seu companheiro de sete décadas. Com voz embargada, ela murmurou: "Deus recolheu meu marido. Fui profundamente feliz ao seu lado".
Enquanto Jônatas tratava dos trâmites no hospital, eu e Edilberto nos ocupávamos dos detalhes burocráticos. Enquanto Betinha e Verbena preparavam a casa. No mesmo momento os filhos que moram fora se deslocavam para uma viagem diferente, um último adeus ao patriarca. Carlê, morando foram do país, sofria a dor da perda, sozinha. Cada um lidava com sua dor à sua maneira, mas unidos pelo amor e pelas lembranças.
Quando o corpo de meu pai chegou em casa, o peso da realidade se abateu sobre nós. Contemplando o caixão na sala e tocando o corpo já frio, as lágrimas inundaram meu rosto. Ali jazia o homem que me criara, que me ensinara valores que nenhum diploma acadêmico poderia suplantar. Ele sempre fora minha âncora, minha referência de caráter e integridade.
Um ano se passou desde sua partida, e ainda estamos aprendendo a conviver com a saudade. Cada canto da casa evoca sua presença, cada detalhe nos faz lembrar do sorriso de meu pai. Nesse um ano sem você, muita coisa mudou. A mais dolorosa foi a partida de Jônatas, nos deixando ainda mais desamparados. Continuo em tratamento, buscando forças nas fisioterapias, seguindo o desejo que o senhor expressou tantas vezes, de me ver caminhando, deixando a cadeira de rodas. Lembro-me vividamente do momento em que dei meus primeiros passos após tanto esforço, indo até seu e senhor ao me ver chorou e orou, agradecendo a Deus. Mas houve coisas boas que o senhor não viu: a reconciliação de "Nara", a chegada de um novo cachorro que batizamos de "Chico", a conclusão da reforma da casa, que você apenas começou a ver, a volta de Rayzza e Heitor para Oeiras... Ah, como dói sua ausência, pai! Cada pergunta que o senhor me fazia sobre as notícias da politica local, e depois de contar, eu dizia: “Eita Oeiras que tem coisas” e o senhor gargalhando dizia: “Esse Lameck, é terrível”. Ah papai, “meu menino”, cada menção ao seu nome, traz à tona uma saudade avassaladora. Mamãe e tia falam de você todos os dias, e nós, seus filhos, netos, sobrinhos, noras e aqueles que partilham nossa intimidade seguimos o mesmo caminho. O senhor e a sua alegria continuam a ser o assunto principal dos nossos encontros. Lembramos suas histórias, suas tiradas e rimos muito, afinal, se apegar a isso é uma forma de manter viva a sua lembrança. Você marcou nossas vidas de maneira extraordinária, e seu amor será eterno.
Enquanto o tempo avança, o amor por seu Antônio Carlos só cresce. Sua presença é sentida em nossas vidas, em cada gesto de carinho e em cada lembrança compartilhada. Nosso vínculo transcende a barreira da morte, e seu exemplo continua a nos guiar, agora e para sempre.
Te amaremos eternamente, Carlos José Valentim, seu Antônio Carlos