Sexta, 14 de Fevereiro de 2025
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Arlete Sepúlvida: ‘’É mais fácil eliminar o pobre negro do que investir em uma educação de qualidade’’

Ela é Administradora, Coordenadora do Projeto Qualificação, Cerimonialista, Mestre de Cerimônia, Radialista, Locutora, Animadora de Eventos, Atriz, Ativista Cultural, diretora do Coletivo Negros Negras de Oeiras

19/03/2022 às 10h00 Atualizada em 19/03/2022 às 10h24
Por: Da Redação
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Arlete Sepúlvida: ‘’É mais fácil eliminar o pobre negro do que investir em uma educação de qualidade’’

Na série MULHERES QUE INSPIRAM, apresentamos hoje ARLETE SEPÚLVIDA, mulher preta, Administradora, Coordenadora do Projeto Qualificação,  Cerimonialista, Mestre de Cerimônia, Radialista, Locutora, Animadora de Eventos, Atriz, Ativista Cultural, diretora do Coletivo Negros Negras de Oeiras.

Essa mulher preta é mãe de dois filhos e militante da causa negra em Oeiras, e diz que na cidade existe sim, um racismo aos moldes oeirense: “Oeiras é uma cidade de exaltas suas tradições, o status quo de algumas famílias tradições e isso é herança do colonialismo onde a sociedade era marcada pela escravidão e coisificação da pessoa negra”

E para combater essa chaga social é foi criado o Coletivo Negras e Negra de Oeiras, que Arlete Sepúlvida faz parte e é diretora.  “A importância do Coletivo Negras e Negra de Oeiras é combater de forma explícita o racismo estrutural e camuflado que vivemos diariamente como se fosse algo normal, comum e correto”.

Confira a entrevista:

 

Qual a importância do Coletivo Negras e Negra de Oeiras?

A importância é combater de forma explícita o racismo estrutural e camuflado que vivemos diariamente como se fosse algo normal, comum e correto.

Existe um racismo aos moldes oeirense?

Existe sim. Oeiras é uma cidade de exaltas suas tradições, o status quo de algumas famílias, tradições e isso é herança do colonialismo onde a sociedade era marcada pela escravidão e coisificação da pessoa negra. E acredito que esse racismo abrange todo o território do país. 

Existe uma noção de que a face mais evidente do racismo institucional é a violência policial, mas também há outras expressões do racismo.  Quais são outros temas prioritários para o movimento negro para além da violência policial?

A violência policial é uma das muitas facetas da violência racial assim como a fome, o desemprego, a necessidade de se colocar no mercador de trabalho cada vez mais cedo  para ajudar no sustento de casa contribuindo com a evasão escolar, gerando assim um outro problema que é a vasta oferta de mão de obra e a desvalorização da mesma por não possuir uma boa qualificação profissional, essa problemática acontece a nível Brasil, constatamos isso sempre ao ligar TV, é manchete em todos os jornais e programas televisivos. Existem também outras expressões do racismo nas escolas, algumas denominações religiosas, clubes, bares, na sociedade em geral.

Outros temas prioritários para o movimento negro para além da violência policial é a obrigatoriedade da aplicação da Lei 11.645/2008 (que trata da obrigatoriedade da História e cultura africana, afro-brasileira e indígena em todo o currículo escolar); O Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares de Educação as Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira (2009; 2013); cumprimento da lei de cotas, etc.  

Por que a bala perdida só encontra o corpo negro?

É mais fácil eliminar o pobre negro do que investir em uma educação de qualidade para o mesmo. Infelizmente a falta de investimento na educação tem um motivo: deixar o povo sem conhecimento e assim ficar mais fácil manipular a população contribuindo com o aumento de pretos e pretas às margens da sociedade.

As mulheres negras também costumam ser maioria nos casos de violência e vulnerabilidade. Quais são as formas de resistência que as mulheres negras têm construído?

Independente da mulher negra ou branca a luta é por igualdade e os grupos de apoio a mulher resiste, persiste e cresce a cada dia.

As mulheres sempre estiveram presentes nos movimentos de contestação e mobilizações ao longo da nossa história. Elas resistiram de muitas formas: se organizaram em clubes de mães, associações, comunidades eclesiais de base, em movimentos contra o custo de vida e por creches. Desafiando o papel feminino tradicional, participaram do movimento estudantil, partidos, sindicatos. Também, ainda que sempre em menor número que os homens, pegaram em armas, na tentativa de derrubar o regime militar. Foram duramente reprimidas. Foram elas ainda que iniciaram o movimento pela anistia.

Por que o corpo da mulher negra continua a ser sexualizado?

Porque ainda hoje, vivemos numa sociedade onde nossos direitos não são respeitados mesmo trabalhando, estudando, conquistamos cada vez mais autonomia e independência mesmo assim o ‘valor cultural’ que se atribui à mulher negra além da branca é físico e estereotipado. Isso é racismo estrutural somado ao machismo, também estrutural.

Num país de cultura machista como o Brasil é difícil ser mulher. É mais difícil ser uma mulher preta?

Sim e quando se trata da mulher preta o preconceito se torna ainda maior e pode se agravar quando a mulher preta é de família pobre, periférica, mãe solteira ou divorciada ou LGBTQIA+.

Em que caminhos temos que seguir para fortalecer a ideia de uma educação antirracista? Acha que a sociedade brasileira está mais vigilante sobre o tema?

O primeiro passo é a implantação da lei 11.645/2008, depois disse é fiscalizar, para que se cumpra. Hoje, embora a passos lentos a sociedade brasileira, de forma gradativa, está mais atenta e vigilante.

 

É quase impossível ser negro e não ter vivenciado uma situação de racismo. Pode nos falar de alguma situação vivida?

Sim. Recentemente estive na parte da manhã em uma padaria, enquanto aguardava o produto que comprei, outra atendente que possui a cor da pele clara saiu do balcão e ficou perto de mim fazendo a limpeza do local, duas pessoas entraram no estabelecimento, se dirigiu a mim para que eu os atendesse, embora eu estivesse usando uma bolsa de passeio e com roupas que não caracterizava um uniforme.

O que é ser uma mulher preta no Brasil?

Sinônimo de luta!

Sinônimo de resistência!

É enfrentar desde muito cedo o racismo, a violência, a exclusão, condições de vida extremamente precárias.

É lutar par ter os seus direitos, é lutar para defender suas conquistas, é lutar por um mundo mais justos e humanizado.

Que mensagem você deixa para as mulheres?

Começo agradecendo as mulheres que estiveram aqui antes de nós: Joana D’arck, Esperança Garcia, Dandara, Maria da Penha, Marielle Franco, Elza Soares, entre outras tantas que não se calaram e que através de suas histórias, suas lutas nos deixaram muitas conquistas e exemplos e acima de tudo coragem para continuar fortalecendo a resistência.

Todo dia é dia da mulher, todo dia vencemos uma batalha, quebramos barreiras, todo dia vencemos e deixamos esse mundo melhor. A todas as mulheres que me inspiram e a todas que fazem a diferença na vida de tantas outras e outros, continuem firmes, pratiquem a sororidade e juntas com toda a certeza, somos mais fortes. 

 

 

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