“Água é fundamental. Da mesma forma que temos que respirar, temos que beber água”. O alerta é da nutricionista Edith Zulato, integrante do Conselho Regional de Nutricionistas da 9ª Região (CRN9), que prossegue, enfática, sustentando que, no tempo seco, a importância deste líquido é ainda maior, uma vez que, nessa época do ano, quando a umidade fica em baixa, ficamos mais propensos à desidratação, um problema associado a diversas complicações, como a ocorrência de câimbras, tonteiras e até alterações neurológicas.
“A água é como se fosse o nutriente ‘número 1’ do nosso organismo, afinal, é a responsável por levar todos os nutrientes para o nosso corpo”, continua a profissional da saúde, acrescentando que a substância também atua na eliminação de toxinas e na redução da nossa temperatura, trabalhando, ainda, com a manutenção da musculatura – “e não podemos esquecer que músculo não é só bíceps e tríceps, mas, também, coração, fígado e rim… Enfim, é a água que vai ajudar nossos órgãos a filtrar melhor todas as impurezas do nosso organismo”, defende.
Para a nutricionista, pode até parecer que falar sobre a importância da água para a nossa saúde e bem-estar é chover no molhado. Mas, na prática, mesmo ciente de tudo isso, muita gente continua negligente em relação a própria hidratação. Além disso, pode soar estranho, mas dá para dizer que boa parte das pessoas bebe água de forma inadequada. Uma evidência desse problema foi um estudo realizado em Campinas, São Paulo, que apontou para o estado alarmante de má-higienização de garrafinhas de água. Questão que é apenas uma das tantas que podem surgir quando esmiuçamos o tema.
Afinal, quantos mL’s devemos ingerir diariamente? Vale virar uma garrafinha em uma golada ou é melhor bebericar o líquido aos poucos? Precisamos ferver e filtrar antes de consumir? E será que existe um material ideal para as famosas garrafinhas d’água?
Em entrevista em que respondeu essas tantas dúvidas, Edith Zulato explicou não existir um volume ideal de água que devemos beber diariamente. “É algo muito individualizado, pois existem pessoas de todo tamanho, peso e, além disso, outras questões, como faixa etária, também precisam ser consideradas”, diz, ponderando que existe uma regra geral, que vai sugerir uma média ideal calculada a partir do peso do indivíduo. “Basta multiplicar o seu peso por 35 para saber quantos mL's do líquido devemos consumir”, indica.
Mas, atenção: não basta beber o volume indicado de água, é preciso atenção a como fazemos isso. “A ingestão deve ser feita gradualmente. Ou seja, a pessoa precisa ir se hidratando ao longo do dia, evitando tomar tudo ou um grande volume de uma vez, porque esse tipo de situação vai gerar uma sobrecarga no organismo, que não utiliza essa água nas células adequadamente”, pontua a profissional da saúde.
Outra dica, acresce, é evitar beber muito líquido à noite, de forma que não seja preciso ir ao banheiro muitas vezes, o que vai prejudicar o sono – que também é muito importante para a manutenção da nossa saúde, salienta.
Outro aspecto que precisa ser observado quando o assunto é a hidratação diz respeito à qualidade da água. “Tomá-la direto da torneira não é indicado porque, se não tiver sido corretamente tratada, ela pode vir com uma série de bactérias provenientes de animais próximos a redes de captação, por exemplo”, aponta Edith, citando que alguns dos problemas associados a esse hábito são a ocorrência de diarreia e anemia.
A nutricionista pondera que, nos grandes centros urbanos, é comum que a substância chegue às casas das pessoas já tratada. “Mas mesmo assim, é bom que a gente tenha filtro em casa. Estes dispositivos vão reduzir ainda mais as impurezas dessa água que, por ventura, venham trazendo bactérias e sujeiras que não devemos consumir”, diz. “Já no caso de locais em que não há tratamento adequado, é aconselhável ferver a água antes de filtrá-la, evitando a presença de parasitas”, destaca.
Sabendo a quantidade de água que devemos ingerir diariamente, feito o alerta sobre a importância de sua ingestão acontecer gradualmente e, sempre, com o líquido filtrado, agora é só matar a sede, certo? Errado. Segundo Edith, é crucial ter atenção também ao tipo de recipiente que usamos para armazenar a substância. “O ideal é sempre utilizar, tanto para água quanto para outros alimentos, recipientes de vidro ou, como segunda opção, aço inox, porque são fáceis de limpar, bastando usar água corrente e detergente neutro para eliminar bactérias que ficam pelo uso contínuo do objeto, além de não liberarem metais pesados”, expõe.
A nutricionista frisa existirem riscos associados ao hábito de beber água em garrafinhas inadequadas. “Neste caso, há maior probabilidade de ocorrência de bactérias, que vão levar a alterações orgânicas. Outro risco é a presença do BPA (bisfenol A), um produto presente no plástico que é altamente tóxico e que, dependendo da temperatura do líquido, seja ela muito baixa ou muito alta, pode ser liberado, contaminando a água. Já os alumínios, principalmente no caso de serem expostos a temperaturas muito baixas ou muito altas, podem liberar metais pesados, que também vão ser nocivos”, assevera.
Vale lembrar que, no ano passado, um estudo realizado pela Faculdade de Biomedicina da UniMetrocamp, em Campinas, São Paulo, chocou os brasileiros ao sugerir que uma garrafa de água reutilizada não higienizada pode ter mais bactérias que assento de vaso sanitário.
Como noticiou a reportagem de O TEMPO, no estudo foram analisados em laboratório bocais e a parte interna de oito garrafas de água e copos. Em apenas uma das garrafinhas analisadas, foram encontradas 17,5 mil bactérias e 1.980 fungos na parte interna. A condição do bocal foi ainda mais preocupante, com 1.152.000 bactérias e 8.310 fungos.
Os pesquisadores responsáveis pela investigação acreditam que a higiene incorreta de garrafas de água pode resultar na contaminação de mais de um milhão de bactérias e fungos, que provocam intoxicação alimentar até infecção pulmonar. Além de diarreia, vômitos, náuseas e dor de garganta. Para evitar a proliferação dos micro-organismos nesses recipientes, a indicação é usar detergente, esponja de lavar louça, que deve ser destinada especificamente para a limpeza destes itens, e escova de mamadeira, para alcançar o fundo de garrafas.
Guilherme Otávio Varino Cornelio, médico infectologista e clínico geral
Quanto ao recipiente em que bebemos água: qual o tipo ideal de garrafinha e como devemos conservá-la/limpá-la? Há diversos modelos de garrafa disponíveis, como opinião pessoal, aconselharia o uso de garrafa transparente, para visualização do conteúdo de maneira mais fácil. Mas há modelos de inox que possuem maior tempo de conservação de temperatura. O necessário é nunca deixar a água muito tempo no recipiente, e a depender do uso, realizar a lavagem ao menos uma vez ao dia, com água e sabão neutros, que são suficientes para eliminar a maior parte dos micro-organismos. A secagem pode ser feita ao ar livre e a garrafa não deve ser fechada durante esse processo, pois a água pode ser veículo de crescimento e proliferação de microorganismos, como bactérias e fungos.
Garrafas de plástico podem ser reutilizadas por tempo indeterminado ou há algum risco inerente a seu uso? Garrafas descartáveis não foram criadas com o intuito de serem reaproveitadas, hoje alguns fabricantes usam até quantidades menores de matéria-prima para elaborar algumas garrafas de água. Aconselho, até para melhor conservação do meio ambiente, com menor produção de resíduos o uso de garrafas criadas com a finalidade de reuso, reforçando as transparentes, de vidro ou acrílico, com formulações livres de bisfenol A (BPA free).
No caso de crianças e bebês já em fase de introdução alimentar, como deve ser feita a higienização de mamadeiras, copos ou colheres? Desmontando as peças do dispositivo, mamadeira ou copo, após o uso. Lavando com água e sabão neutro, necessário sempre enxaguar com água corrente em abundância. Fervura por alguns minutos. Cinco minutos são suficiente para desinfecção. Secagem ao ar livre, evitar uso de panos de secagem para evitar contaminação. Armazenar em local limpo e fechado. Sempre ter atenção a peças danificadas para troca da peça ou do dispositivo inteiro.